Resiliência |
“E a maioria dos
irmãos, motivados no Senhor pela minha prisão, estão anunciando a palavra com
maior determinação e destemor”. (Filipenses 1:14)
O que intriga neste verso é o forte
sentimento resiliente dos irmãos membros da igreja romana que revés ao amedrontamento
por causa da perseguição e prisão a Paulo, receberam uma porção extra de ânimo,
sentiam-se motivados a evangelizar mais, como uma resposta as opressões, uma
retaliação positiva. De fato “O conhecimento disto deve suplantar nossos
temores, de modo a podermos falar ousadamente em meio aos perigos”. (CALVINO,
2010, p. 187). Quem eram os que estavam sendo estimulados a enfrentar estes
perigos iminentes? Os irmãos romanos, ou melhor, parte destes que eram
motivados para e pela Palavra de Deus, sentiam um amor em professar as boas
novas do evangelho.
“Verdade
é que também alguns pregam a Cristo por inveja e porfia, mas outros de boa
vontade; Uns, na verdade, anunciam a Cristo por contenção, não
puramente, julgando acrescentar aflição às minhas prisões. Mas outros,
por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho. Mas que
importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento ou em verdade, nisto me regozijo, e me
regozijarei ainda”. (Filipenses 1:15-18)
Além
daqueles que pregavam o evangelho por amor, existiam outro grupo, os que tinham
interesses escusos, Hernandes Dias Lopes coloca e expõe de forma primorosa cada
qual:
“Alguns crentes pregam o evangelho com motivação errada
(1.15). Uns pregam o evangelho por amor ao evangelho; outros, por amor a si
mesmos [...] Alguns irmãos, ao verem Paulo preso, se esforçaram para pregar o
evangelho, com cinco motivações erradas:
Primeiro, inveja. No grego, temos o vocábulo phthonos, que significa
“ciúmes”, “inveja”. A inveja se intromete entre pregadores do evangelho. Com
quanta profundidade ela está arraigada em nosso coração, mais profundamente do
que muitos pecados rudes[...]
Segundo, porfia. É a tradução de eris, palavra grega que significa “contenda”,
“discórdia”, “dissensão”. Essa foi a palavra que Paulo usou para descrever as
facções existentes na igreja de Corinto, e que provocaram traumáticas divisões
(1Co 3.3)[...]
Terceiro, discórdia. No original grego é eritheia, que significa “disputa”,
“ambição egoísta”, com explosões de egoísmo. Essas pessoas pregavam por
interesses pessoais. Pregavam para aumentar a sua própria influência e
prestígio. Eles pregavam para engrandecer a si mesmas. Essas pessoas
trabalhavam para terem mais influência sobre a igreja. A glória do nome delas,
e não a glória do nome de Cristo, é o que buscavam com maior fervor[...]
Quarto, falta de sinceridade, O culto à personalidade é um pecado
que ofende a Deus. Toda glória dada ao homem é vazia (2.3,4)[...]
Quinto, suscitar a tribulação a Paulo. A palavra usada é thlipsis,
“pressão, fricção”[...] pensavam que Paulo também era como eles. Pensavam que
estava disputando primazia. Olhavam para Paulo como um competidor e um rival.
Trabalhavam apenas para apresentar um relatório com maiores resultados. Esses
pregadores interessavam-se mais em sua reputação do que em sua mensagem”.(2007, p.79-81)
Não diferente, nos nossos dias há muitos
depravados pregando o evangelho, e além do mais enriquecendo com ele, mesmo
Paulo dizendo que o importante é o anunciar a Cristo, ele não diz que os que
pregam para benefício próprio estão certos, mas que o objetivo do evangelho está
acima destes inescrupulosos!
“Porque sei que
disto me resultará salvação, pela vossa oração e pelo socorro do Espírito de
Jesus Cristo,Segundo a minha intensa expectação e esperança, de que em
nada serei confundido; antes, com toda a confiança, Cristo será, tanto agora
como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte. Porque para mim o
viver é Cristo, e o morrer é ganho”. (Filipenses 1:19-21)
Algumas pessoas pensam que Paulo gostava de
sofrer, que suas marcas eram um “carma” ou que este era um caminho penitencial.
Ledo engano, na realidade, mesmo sofrendo com tantas agruras Paulo tem
esperança, fé na libertação. Para libertação a palavra grega seria soteria, contextualmente salvação e/ou
bem-estar. Esta provisão que tanto almejava Paulo só seria possível pelo
Espírito, pois este “...é a causa eficiente, enquanto que oração é um auxílio
subordinado”. (CALVINO, 2010, p.391)
Outro ponto importante é que Paulo mesmo se não
fosse solto (pensava), a glória do Senhor seria manifesta através dele e sua
esperança nEle, mesmo estando morto fisicamente, não acabaria. Para ele viver é
estar em Cristo, viver segundo o que Ele o ensinou, não seria decepcionado com
Deus mesmo sendo martirizado. Confiava que sua morte traria tantos benefícios
ao evangelho, quanto literalmente nos ensinos de Jesus, cumprindo a sua
Palavra, dando testemunho vivo de (Mt 6).
Vejam esta belíssima exposição de Calvino acerca
do verso 21:
“Os intérpretes têm feito até agora, em minha
opinião, uma tradução e exposição errôneas desta passagem; pois fazem esta
distinção; que Cristo era a vida para Paulo, e a morte era lucro. Em
contrapartida, eu faço Cristo ser o sujeito da frase em ambas as partes, de
modo que ele é declarado como sendo lucro para ele, quer na vida, quer na
morte; pois entre os gregos é costumeiro fazer a palavra πρός ficar subentendida.
Além disso, este significado é menos forçado, e também corresponde melhor com a
afirmação precedente e contém a doutrina mais completa. Ele declara ser-lhe
indiferente, e é a mesma coisa, se ele vive ou morre, porque, possuindo Cristo,
ele tem ambas as coisas como lucro. E, com toda certeza, é somente Cristo que
nos faz felizes, quer na morte, quer na vida; de outro modo, se a morte for
miserável, a vida de modo algum é mais feliz; de modo a ser difícil determinar
se é mais vantajoso viver ou morrer fora de Cristo. Em contrapartida, se Cristo
está conosco, e abençoar nossa vida, tanto quanto nossa morte, então ambas nos
serão felizes e desejáveis”. (2010, p.392 e 393).
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