FIRMANDO-SE EM DEUS
Não
é de admirar que, por muitas vezes, entregamo-nos ao desespero porque estamos
sempre focados em coisas fúteis. Em vez de confiarmos em Deus, à semelhança de
Davi diante de Golias que se entregou aos cuidados do Senhor e não às suas
próprias armas (I Sm 17.45), acabamos atuando de forma contrária ao exemplo
deixado pelo rei, cujo Messias descende. Agimos como ímpios, deixamos de
confiar na força do braço de Deus para confiar na força da carne e nos objetos
produzidos por nós mesmos os quais muitas vezes adoramos, inclinamos nossos
corações, oferecemos sacrifícios ou prestamos culto (ver exemplo em Hc 1.16)
por considera-los fontes de nossas satisfações egoístas. Sobre isso nos falou o
Senhor, através do profeta Jeremias, no capítulo 17 do seu livro (ver 17.5).
Aqui
vamos abordar pelo menos quatro tópicos que integram a nuance de nossa firmeza
em Deus e que podem nos manter firmes, como também, evitará que sejamos
deixados à deriva com o risco de termos nossas almas naufragadas na fé nesta
viagem maravilhosa rumo à eternidade. São elas: a fé, a boa consciência, a
satisfação (ou contentamento) e a esperança. Vamos refletir em cada uma delas:
Fé
A
fé (πίστις: pístis): nessa palavra está intrínseca a ideia de crer, de confiar, de se
abandonar, de se lançar (como quem se joga nos braços de alguém com a certeza de
que ela não vai te deixar cair), apoio e fidelidade. Vejamos o que diz Paulo a Timóteo
em sua primeira carta:
"Timóteo, meu filho, dou-lhe esta instrução, segundo as profecias já proferidas a seu respeito, para que, seguindo-as, você combata o bom combate, mantendo a fé e a boa consciência que alguns rejeitaram e, por isso, naufragaram na fé. Entre eles estão Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar."
I Timóteo 1.18-20
A
fé tem como ponto de partida a Palavra, isso indica seu aspecto objetivo.
Não devemos crer ou ter fé em qualquer coisa, ou melhor, não devemos lançar
nossas vidas sobre qualquer palavra, mas sobre a Palavra que procede da boca de
Deus que é capaz de suprir nossas necessidades espirituais (Mt 4.4; Lc 4.4; cf
Dt 8.3). Quando me refiro a necessidades espirituais não estou fazendo
separação entre o nosso corpo e o espírito, o nosso corpo é necessário, pois é
através dele que transmitimos ao mundo a imagem do Senhor que está sendo restaurada
em nós (Cl 3.9,10) e o Senhor cuida dele (Mt 6.21-34). É através de nossos
corpos que expressamos a santificação como, também, é através dele que expressamos
nossa rebeldia. Nossos atos são resultado daquilo que pensamos e, se estamos
aprendendo a palavra de maneira errada, nossas ações serão erradas, a imagem de
Deus não estará sendo estampada em nós. Portanto, precisamos da objetividade que
somente a Palavra de Deus pode nos proporcionar, para que compreendamos a
vontade de Deus e essa fé objetiva, que surge da autêntica mensagem divina (Rm
10.17), possa ser estabelecida em nós. Outro aspecto da fé é a sua subjetividade,
aqui o sentido não é a fé adquirida mediante interpretações particulares, mas a
postura do homem em relação ao que compreende da objetividade. Até que ponto,
estamos dispostos a nos abandonar nos braços de Deus, a entregarmos o nosso
caminho ao Senhor como reza o Salmo davídico 37.5?
Mais um ponto que envolve a subjetividade da fé é a nossa fidelidade, a nossa obediência àquilo que cremos, à verdade que tem gerado a nossa fé. Não esqueçam, apenas crer é fé pela metade, temos que andar, ser fiéis à nossa aliança selada com o sangue de Cristo derramado na cruz e com o Espírito Santo em nós. Somente assim nossa fé será completa e as tempestades, os vendavais que ocorrem na nossa vida não nos levará para longe ou não nos afundará.
Mais um ponto que envolve a subjetividade da fé é a nossa fidelidade, a nossa obediência àquilo que cremos, à verdade que tem gerado a nossa fé. Não esqueçam, apenas crer é fé pela metade, temos que andar, ser fiéis à nossa aliança selada com o sangue de Cristo derramado na cruz e com o Espírito Santo em nós. Somente assim nossa fé será completa e as tempestades, os vendavais que ocorrem na nossa vida não nos levará para longe ou não nos afundará.
Boa
consciência
A segunda postura que nos é explicitada
no texto em Timóteo é a “boa consciência”. Não apenas Paulo, mas os autores da
carta aos Hebreus e Pedro fazem menção dessa expressão (ἀγαθὴν συνείδησιν: ágathên syneídêsin). Começando
por partes, a consciência é a sensibilidade de julgar entre o bem e o mal, essa
capacidade pode ser perdida (I Tm 4.2). Além dessas duas referências Paulo faz
uso dela mais duas vezes nessa carta a Timóteo (I Tm 1.5; 3.9; ver também Hb
13.18; I Pe 3.16). Inclusive é a consciência que serve como lei para aqueles
que não tiveram ou não tem acesso a Palavra Santa (Rm 2.14,15). Uma vez perdida
a sensibilidade necessária à boa consciência, o risco de nos afundarmos na
mentira e no fingimento, próprio de hipócritas que criam regras proibitivas,
que vão além do que está escrito (I Tm 4.1-4) pode se torna patente. Que o
Senhor tenha misericórdia de nós e não nos deixe ser cauterizados pelos enganos
de demônios e a orientação de espíritos enganadores. A outra parte que
engloba a boa consciência é a escolha por atitudes que correspondam ao
evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, que expressem a verdade de sua Palavra,
isso está relacionado com o fator moral da consciência e nos dá a segurança necessária
a grande navegação a qual fomos convocados a trilhar (ver I Tm 3.9).
A satisfação ou contentamento
Ainda na primeira carta a Timóteo
encontramos a necessidade de contentamento ou satisfação (ἀρκέω: arkéô), essas
palavras se aproximam bastante do grego. Observemos o que o apóstolo escreveu:
"Por isso, tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos. Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição, pois o amor ao dinheiro é raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram a si mesmas com muitos sofrimentos."
1 Timóteo 6:8-10
A insatisfação é uma demonstração aberta
de nossa ingratidão ao que o Senhor tem provido e a desconfiança na capacidade
e no cuidado de Deus para conosco. Notamos em Mateus 6.25-34 o registro das
palavras do nosso Senhor Jesus garantido a satisfação de nossas necessidades e
não de nossos caprichos. Tem quem cite o versículo 33 de Mateus da seguinte
forma:
Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino
de Deus e a sua justiça, e as demais coisas lhes
serão acrescentadas.
Ou...
Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino
de Deus e a sua justiça, e todas as outras
coisas lhes serão acrescentadas.
Quando na verdade está escrito...
"Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas."
Mateus 6:33
Irmãos a graça de Deus é de acordo com a
vontade d'Ele e não conforme a nossa medíocre volição. A satisfação nos
garante velejar sem o risco de afundarmos na “ruína e na destruição”. Quando
buscamos riquezas buscamos satisfazer nossos próprios desejos e muitos deles são
maus. Tem quem se corrompa aceitando suborno, sonegando impostos (“...deêm a
Cesar o que é de César... Mt 22.21” Lembram?); outros se prostituem de
todas as formas, homem com homem, mulher com mulher, escolhem não casar e ficam
trocando de parceiros até que encontre o que o satisfaz sexualmente ou financeiramente;
casam-se com quem não amam para melhorar de vida; adulteram por não estarem satisfeitos
com a aparência do cônjuge ou porque casou apenas por interesse; quando
enriquecem trocam não apenas de carro, mas de casa, esposa, filhos como se o
ser humano fosse um mero objeto que é desvalorizado com o tempo, etc. Tais são as
águas do mar que encobrem e sufocam os insatisfeitos com a graça de Deus.
Afundam não como o submarino que imerge para surpreender o inimigo, mas como o
Titanic causando inúmeras mortes e inclusive a sua só para satisfazer desejos
fúteis. Deixemos de buscar em primeiro lugar satisfazer nossos caprichos tolos
em detrimento do Reino de Deus que nos disponibiliza vida e não morte. Uma
decisão de Davi em satisfazer sua cobiça levou não somente ele, mas toda a sua
casa e até seu reino ao naufrágio. Se não fosse a tua misericórdia Senhor.
Apesar de em um instante Davi ter afundado nos reveses da vida, ele teve a oportunidade
de ver sua vida a salvo. Olhe as palavras do profeta Natã num dialogo com o rei
Davi:
"Então Natã disse a Davi: "Você é esse homem! Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: ‘Eu o ungi rei de Israel, e livrei-o das mãos de Saul. Dei-lhe a casa e as mulheres do seu senhor. Dei-lhe a nação de Israel e Judá. E, se tudo isso não fosse suficiente, eu lhe teria dado mais ainda."
2 Samuel 12:7-8
A insatisfação de Davi o levou ao
adultério, à morte de homens fiéis (não foi só Urias que morreu no planinho de
Davi. Veja II Sm 11.16,17). Note como narra a história Flávio Josefo a morte de
Urias:
“...Os que acompanhavam Urias, então, fugiram, menos alguns que não sabiam da ordem; Urias deu-lhes o exemplo de preferir a morte à fuga, ficou firme, manteve o ímpeto dos inimigos, matou vários e depois de ter feito todo o possível que se poderia esperar de um militar tão valioso, rodeado de todos os lados, crivado de golpes, morreu gloriosamente, com uns poucos que imitaram sua coragem e sua virtude” ( JOSEFO, 2000, p. 181).
“E, se tudo isso não fosse suficiente, eu
lhe teria dado mais ainda”. Aleluia! O Senhor conhece as nossas necessidades e nos concede o
que precisamos nesta luta contra o mal. Estejamos satisfeitos com o que Ele tem
nos concedido, com a sua provisão, com a sua graça que nos basta (II Co 12.9;
ver Hb 13.5). Para
A esperança
Por último destaca-se a esperança (ἐλπίδος: elpídos), mas
não em qualquer coisa. O escopo de nossa esperança deve ser as promessas de
Deus, a Palavra eterna do Santo de Israel confirmada por juramento, isso nos
serve de âncora, nos prende diretamente ao nosso Deus e Pai. Nossa esperança
não deve estar fixada em palavras humanas, fruto do pensamento ou da loucura
humana. Mas na Bíblia.
"Quando Deus fez a sua promessa a Abraão, por não haver ninguém superior por quem jurar, jurou por si mesmo, dizendo: "Esteja certo de que o abençoarei e farei seus descendentes numerosos". E foi assim que, depois de esperar pacientemente, Abraão alcançou a promessa. Os homens juram por alguém superior a si mesmos, e o juramento confirma o que foi dito, pondo fim a toda discussão. Querendo mostrar de forma bem clara a natureza imutável do seu propósito para com os herdeiros da promessa, Deus o confirmou com juramento, para que, por meio de duas coisas imutáveis nas quais é impossível que Deus minta, sejamos firmemente encorajados, nós, que nos refugiamos nele para tomar posse da esperança a nós proposta. Temos esta esperança como âncora da alma, firme e segura, a qual adentra o santuário interior, por trás do véu, onde Jesus, que nos precedeu, entrou em nosso lugar, tornando-se sumo sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque."
Hebreus
6.12-20
Hoje, mais do que nunca, devemos recorrer
ao que é capaz de produzir em nós fé, ao que nos orienta e consolida em nós uma
consciência pura, à satisfação na graça de Deus. Ao que traz estampada a Palavra
daquele que não mente, que cumpre as suas promessas e não decepciona aos que tem
fixado a esperança em suas promessas, a Bíblia Sagrada. Somente assim, não estaremos sob o risco de naufragarmos na fé.
Que o Senhor reverbere a Sua Verdade (ἀλήθεια: alêtheia)
em nossos corações e que em nós haja a disposição necessária para a praticarmos
sempre.
Referências:
NVI.
Bíblia: Nova Versão
Internacional. São Paulo, SP: Vida, 2000.
GINGRICH,
F. Wilbur; DANKER, Frederick W. Léxico do Novo
Testamento. São Paulo, SP: Vida Nova, 2007.
COENEN, Lothar; BROWN, Colin (Org.). Dicionário
Internacional de Teologia do Novo Testamento Grego. 2ª
São Paulo, SP: Vida Nova, 2000. 2v.
RUSCONI,
Carlo. Dicionário do Grego do Novo Testamento. 4ª
São Paulo, Sp: Paulus, 2011.
JOSEFO,
Flávio. História dos Hebreus. 4ª
Rio de Janeiro, Rj: Cpad, 2000.
HAUBECK, Wilfrid; VON SIEBENTHAL, Heinrich. Nova Chave
Linguística do Novo Testamento Grego. São Paulo, Sp:
Targumim/hagnos, 2009.
LUZ,
Waldir Carvalho. Novo Testamento
Interlinear. São Paulo, Sp: Cultura Cristã, 2003.
Cleiton, quando o chamei para ser articulista de nosso blog sabia que não estava sendo atoa, pelo contrário, serás mais um que Deus usará com veemência e destemerosidade, Deus é. contigo. Ah! Se o povo de Deus começasse a conhecê-lo mais profundamente, buscar no mais recôndito e profundo o conhecimento de Deus.
ResponderExcluirGraça e Paz!
ResponderExcluirEstamos aqui pra somar.
Bem gostei muito do Assunto um assunto que deveria ser tratado com mais vigor pois muitas pessoas cristãs por ai querem adorar a Deus mais e não ou foram ensinados de uma forma erada, por isso que este assunto deveria ser mais falado e descultido entre o povo de Deus para que os próximos crentes venham ser crentes verdadeiramente firmados na Rocha!
ResponderExcluirÓtimo texto, gostei bastante, Deus abençôe vocês
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