"Ao anjo da igreja em Filadélfia escreva: Estas são as
palavras daquele que é santo e verdadeiro, que tem a chave de Davi. O que ele
abre ninguém pode fechar, e o que ele fecha ninguém pode abrir. Conheço as suas
obras. Eis que coloquei diante de você uma porta aberta que ninguém pode
fechar. Sei que você tem pouca força, mas guardou a minha palavra e não negou o
meu nome. Vejam o que farei com aqueles que são sinagoga de Satanás e que se
dizem judeus e não são, mas são mentirosos. Farei que se prostrem aos seus pés
e reconheçam que eu amei você. Visto que você guardou a minha palavra de
exortação à perseverança, eu também o guardarei da hora da provação que está
para vir sobre todo o mundo, para pôr à prova os que habitam na terra. Venho em
breve! Retenha o que você tem, para que ninguém tome a sua coroa.
Farei do vencedor uma coluna no santuário do meu Deus, e dali ele jamais sairá. Escreverei nele o nome do meu Deus e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu da parte de Deus; e também escreverei nele o meu novo nome. Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas".
Farei do vencedor uma coluna no santuário do meu Deus, e dali ele jamais sairá. Escreverei nele o nome do meu Deus e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu da parte de Deus; e também escreverei nele o meu novo nome. Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas".
(Apocalipse 3:7-13)
Phileo delphos, lendo esta expressão, faz-lhe lembrar algo?
Pois é, trazendo a pronúncia para o português, Filadélfia origina-se destas
duas palavras que formam a sentença “amor entre irmãos” e o nome desta cidade
tem uma história um tanto quanto curiosa, em 150 a.C. Átilo II funda esta
cidade no vale de Cógamo em homenagem a amor existente entre ele e seu irmão
Eumênes II, hoje a cidade islâmica de Alasehir, na Turquia. A cidade de
Filadélfia ficava ao aclive do monte Tmolo, distando cerca de 122 Km de Esmirna.
Como todas
as cartas, esta é endereçada ao anjo (pastor) da igreja, diferentemente das
igrejas anteriores, é a única que não tem repreensão, e junto a Esmirna, seu
pastor é elogiado, no caso de Esmirna, os da sinagoga de Satanás comungavam com
alguns crentes de Esmirna, já no caso de Filadélfia, era um grupo de gnósticos
que possuíam uma sinagoga nesta cidade e que iam de encontro à doutrina de
Cristo, relativizando e até banindo a deidade de Jesus, como também, combatendo
a doutrina da encarnação de Deus em forma de homem. Mas, sobre os gnósticos,
iremos falar um pouco mais a frente.
O Senhor
Jesus se apresenta como o que é santo, e Ele é e sempre será irrepreensível, o
único que é digno de desatar os selos, o único que foi homem e é digno de honra,
louvor e adoração, também identificado como verdadeiro, ou seja, o único que é
realmente salvador do mundo, e não uma farsa como muitos que hoje se dizem ser
o messias, o “INRI”, inquestionavelmente Ele é o Senhor (Deus) de nossas vidas.
Também é aquele que tem a verdade e é a própria verdade, pois, “Conhecereis a
verdade e ela vos libertará” (Jo 8.32), a verdade que liberta o cativo e
oprimido pelo pecado, dar a alforria ao escravo do maligno, quebra as cadeias e
grilhões através da sua Palavra da verdade.
“E que tem a
chave de Davi”, o que isso quer dizer? Se buscarmos nos textos
veterotestamentários, mais precisamente nos livros dos profetas Isaías e
Ezequiel, veremos várias referências acerca da ascendência de Jesus a Davi,
expressões como “um rebento de Jessé” (Is 11.1), “meu servo Davi” (Ez 37.24), conotam
o verdadeiro descendente de Davi, que reinará para sempre e tem a chave deste reino.
A expressão “chave de Davi” é oriunda “de uma experiência antiga. O rei
Ezequias tinha um administrador de seu palácio, de nome Sebna, que foi
substituído por Eliaquim. Quando recebeu a função, dele disse Deus: ‘Porei
sobre o seu ombro a chave da casa de Davi; ele abrirá, e ninguém fechará,
fechará e ninguém abrirá’ (Is 22.22)” (AZEVEDO, 2011, p.113). Ou seja, a
autoridade do Senhor Jesus é soberana e transcendente, real e absoluta,
inalienável e inquestionável, eterna e inatingível. E essa autoridade é sobre o
bem e o mal, entre as regiões físicas e espirituais. O Senhor nos livra do
governo maligno, a não ser que queiramos ser regidos pelo adversário.
“Eis que
coloquei diante de ti uma porta aberta”, Filadélfia era uma cidade que possuía
geograficamente uma passagem obrigatória. Como assim? Para seguir para
Jerusalém, quem saísse daquelas redondezas teria que passar por Filadélfia, ou
seja, era uma porta aberta para escoar o evangelho a vizinhança, levar a
Palavra aos mais distantes rincões da Ásia, Filadélfia tinha amor pela Palavra
de Deus e por isso tinha uma porta aberta ao evangelismo e missões. Essa mesma
estrada ligava a própria Jerusalém a capital romana. Mas, apesar dessa
localização estratégica, o grande trabalho missionário desta igreja só teve
grande efeito universal no século XVIII, reverberando no ocidente, isso mesmo,
chegando até as Américas. Por isso, John Gil conjecturou que, a igreja de Filadélfia
seria uma espécie de porta aberta para o evangelismo e as missões do futuro,
enquanto que o tempo da inscrição do livro das Revelações era do evangelismo
provocado por Sardes, pois passava por Filadélfia para ir a missões. Seria
então uma grande liberdade dos pregadores de ir e vir, isso realmente ocorreu
no século acima citado. Mesmo por isso, e pela quase obrigatoriedade da
estalagem de muitos forasteiros na cidade de Filadélfia durante suas viagens,
ela se tornou um grande berço de evangelismo, estes que eram evangelizados redistribuíam
a Palavra, o evangelho oral por onde transcorriam.
“Tendo pouca
força”, o pastor da igreja provavelmente tinha um grande caráter cristão, essa
expressão citada não era para a igreja que tinha pouca força, mas ao pastor que
tinha a humildade de entender que não possuía grandes dotes para levar tão
grande evangelho através da porta aberta, era humilde, como o Senhor afirmou no
sermão do monte “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos
Céus” (Mt 5.3) Ser pobre de espírito é mais do que ser humilde, é ser
essencialmente incapaz de se defender diante das acusações, próprio Cristo foi exemplo disto, “como um
cordeiro foi ao matadouro (...) como ovelha muda na presença de seus
tosquiadores” (Is 53.7) e isso estava ocorrendo com o anjo da igreja em
Filadélfia, pois mesmo sendo pressionado, mesmo sendo afligido, e seu coração
estando cheio de temor, de limitação, de fraqueza, de até medo, não negou a
Palavra, nem tampouco o nome de Jesus. E isso fica bem claro ao seguirmos o
texto, pois fala dos da “sinagoga de Satanás”, como eu disse antes, os
gnósticos eram essa sinagoga de Satanás, mas porque eles eram chamados assim?
Simplesmente pelo fato de pregarem o contrário ao que o pastor da igreja em
Filadélfia pregava, ou seja, negavam a deidade de Cristo, e interpretavam de
forma narrativa as escrituras, dando suas próprias interpretações e muitas
vezes mitificando os textos bíblicos a simples contos e fábulas, ou até mesmo
mitologia. Levavam a outros crerem que Jesus não era a encarnação de Deus aqui
na terra e que não tinha poder. Mas quem eram os gnósticos? Era um segmento
religioso sincrético, ou seja, a mistura de uma série de religiões, mas com o
berço no paganismo antigo, tanto babilônico, como egípcio, combinando elementos
da astrologia, judaísmo, Kabbala e cristianismo. Essas práticas ocultistas
estavam tentando ser inseridas dentro da igreja de Filadélfia, mas o pastor da
igreja resistiu a esses falsos ensinos, a principal vertente do gnosticismo é a
heterodoxia, ou seja, é a interpretação contrária a todas as crenças, oriunda e
embasada em “revelações” que podemos chamar de pseudorrevelações. Quer dizer, é
o que chamamos de interpretação alternativa da Palavra, e não pense que isso não
acontece nos dias de hoje, pelo contrário, vemos muitas igrejas enraizadas com
tal doutrina de satanás, doutrina que diverge contra a Palavra e converge para
a condenação eterna. Peçamos a Deus que estes reconheçam seus erros e se prostrem
perante o Senhor, que o adorem e saiam de seus erros.
“Como
guardaste a palavra da minha paciência”, isto mostra que o pastor da Igreja em
Filadélfia guardava ardentemente a constância, perseverança, tolerando as
circunstâncias e não se dobrando ao erro dos gnósticos e dos que o perseguiam,
suportando os males e sofrimentos com uma mente tranquila, gentil e clemente.
Mostrando e respaldando o que acabara de falar, a fraqueza, falta e/ou pouca
força era a fragilidade em meio as provações, e não pecado como alguns acham e
até usam esse termo para dizer “Irmão se você está fraquinho e em pecado Deus
vai abrir uma porta para você!” mas isso não passa de falaciosas palavras hedonistas
e antropocentristas, quer dizer, essa paciência e tolerância (resistência) as
provas o fazia cada vez menor, mais humilde e limitado. Que as provas que nos
abatem sejam para engrandecimento do nome do Senhor e para nosso abatimento
carnal, que cresçamos em meio às provas.
“Também eu
guardarei da hora da tentação”, este texto trás muitas controvérsias em sua
interpretação, alguns dizem que essa tentação, mas fielmente traduzida como “esmagamento”
e/ou “provação”, é tida pelos pré-tribulacionistas como uma forma do Senhor
Jesus resgatar o seu povo antes da grande tribulação, mas para isso ser verdade
deve haver um certo exagero em sua interpretação já que a carta era direcionada
especificamente para Filadélfia, já os pós-tribulacionistas dizem que isso
provavelmente aconteceu na grande perseguição imposta no século II pelo império
romano contra os cristãos, onde muitos foram dispersos, mas realmente a igreja
de Filadélfia não sofreu essa perseguição e perdurou até dois séculos atrás,
mas para essa afirmação não existem provas factuais convincentes. Ambas
interpretações carecem de respaldo para sequer chegarem a ser uma verdade bíblica.
“Eis que
venho sem demora; guarda o que tens para que ninguém tome a tua coroa”. A
história antiga grega, em seus anais, mostra que, no Peloponeso, a cada quatro
anos eram comemoradas e disputadas as Olimpíadas gregas desde 776 a.C. Nesta
ocasião cada vencedor recebia uma coroa de folha de louro, chamada de coroa da
vitória. Esta figuração entre os esportes e o evangelho de Cristo é bem latente
nos escritos de Paulo, isso era uma herança helênica tanto no meio cultural.
Não diferente, o cristão que vencesse as provas dessa vida, estaria recebendo
uma coroa, semelhante ao livro da vida que o nome não seria riscado (Sardes),
aqui os que já eram vencedores não poderiam deixar de ser vencedores, poi ao
momento que perdessem essa “competição” espiritual, outro tomaria sua coroa, ou
seja, a vida eterna transformar-se-ia em morte eterna.
“Ao que
vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá...” Segundo
1 Tm 3.15, a igreja é a coluna e a firmeza da verdade, e sabemos que o Senhor
disse que edificaria esta coluna, e que ela jamais acabaria, pois mesmo sendo
posta a prova resiste com a verdade da Palavra de Deus, as colunas sempre são a
sustentação da construção, elas se caracterizam em produzir durabilidade na
obra e firmeza na sustentabilidade. Sabemos que após terremotos as construções
todas vão ao chão, mas que suas colunas perduram, Filadélfia sabia disso muito
bem na prática, inúmeras vezes esta cidade havia sido destruída por terremotos,
mas suas colunas e pilastras permaneciam intactas, por isso a utilização dessa figura
de linguagem tão rica ao contexto de Filadélfia.
Após a
vitória vindoura poderemos chamar junto com Jesus, Deus Pai de nosso pai, pois
quando estava Jesus na terra Ele afirmou “Meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso
Deus” (Jo 20.17) poderemos então afirmar categoricamente que somos irmãos de
Jesus e falarmos com Ele, “Estamos juntos de nosso Pai, somos irmãos e filhos
de um só Deus e Pai!” Glória a Deus. Teremos a marca de Deus em nós, e a de
Cristo também. Enquanto muitos terão a marca do anticristo e do Diabo durante a
tribulação aqui na terra, nós teremos a marca do Senhor em Glória! Aleluia!
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