Motivo
Sempre quis saber o porquê de ser autodidata desde os meus 20 anos, achava que era um dom, pensava eu, que era especial, mas quando comecei a compreender o verdadeiro sentido psicológico de alguém que tem certo perfil, notei que isso não era a realidade, pelo contrário, descobri que essa forma de aprender é uma fuga ou defesa contra o sistema de ensino precário, egoísta e sem compromisso real com o aprender, que na realidade paira só pelo depósito de conhecimento e insistência em culpar o aluno de seus fracassos.
Não obstante, após ter concluído o curso de pedagogia, ou melhor, ao estar cursando pedagogia, me refugiava nas ideias utópicas e diferenciadas do grande escritor e educador brasileiro Paulo Regulus Freire, nisso notei, o quanto eu e muitos outros alunos sofreram e sofrem com “professores” pouco estimulantes, professores incapazes de entender a simples Arte do aprender, a mais pura e singela sensibilidade no ato de estimular o aprender, a mais pura arte de um ensino-aprendizado efetivo e significativo.
Lembro-me dos meus 11 anos, quando ficava angustiado porque não conseguia compreender a resolução de uma simples expressão numérica, ou uma equação de primeiro grau, eram tantas chaves, colchetes, parênteses. Pra onde ía cada coisa daquela? Porque eram eliminadas? Qual o significado de tantos termos e expressões? Pra que serviam ou servem? Usar uma calculadora não seria mais fácil? Por acaso aquilo produz algum estímulo? Por isso, sucessivas vezes, fiquei em recuperação, graças a Deus nenhuma reprovação, mas quantos alunos são reprovados por causa dessas condições? Quais dentre estes consegue desenvolver um perfil autodidata? Quantos destes se desistimulam pela leitura e pela busca do conhecimento? Busca da arte do aprender?
Notadamente esse problema não só visualizei nas escolas ditas “seculares”, mas também dentro da igreja a situação é ainda mais constrangedora. As crianças são obrigadas a escutar histórias nada estimulantes da Bíblia, quem está a frente do ensino infantil pouco se importava com o aprender do aluno, lembro-me que aos meus 8 a 10 anos de idade o que mais me empolgava no dia da escola dominical era o ato de ganhar algumas figurinhas da história do dia, pois a professora passava mais de quinze minutos conosco só treinando o título da lição, depois mandava agente decorar o texto áureo, o resto não lembro mais de nada, porque era pouco e/ou nada estimulante, mera reprodução e leitura de uma história, cresci e notei que uma ou outra professora de adolescentes trazia algo diferente, nos colocava para falar, lembro da primeira vez que “dei aula” na Escola Dominical, tinha meus 12 para 13 anos e a professora me separou para dar um tópico da lição que falava em “O pecado”, não sabia bem o que dizer, não tinha me preparado e nem tampouco fui orientado, mas contei algumas histórias engraçadas que tinha ouvido sobre o pecado e todos prestavam atenção, riam e interagiam, não sabia bem o que estava fazendo, mas foi muito interessante. Daí me tornei professor de adolescentes sem ter nenhum respaldo ou conhecimento pedagógico e/ou teológico, mas começava ali a iniciar um magistério nenhum pouco programado e intencional.
Notei que está na contramão dos outros professores sempre rendia mais, os alunos tinham melhor desempenho. Ao contrário, de estar repetindo várias vezes um mesmo texto para decorá-lo, fazia uma interpretação semântica e exegética dos versos, mas sem saber que estava fazendo isso, por exemplo, se o título da lição era “A autêntica vida cristã”, começava perguntando se sabiam o que significava esse título, o que queria dizer esse título, porque ele foi colocado naquela lição, e muitas vezes trabalhando sem compreender o que estava fazendo, estava indo numa direção mais interessante e pontual ao que tenho por convicção hoje. E essa forma de diálogo com o aluno se seguia por toda a aula, entendendo o versículo de ouro da lição, quebrando o tal do “Para memorizar” e substituindo-o em “Para entender” e/ou “Para compreender”.
Devemos saber que quando estamos em uma sala de aula não falamos a robôs nem a desktops ou notebooks, falamos e devemos interagir com pessoas, estes precisam compreender o real significado da alegria do aprender, a felicidade do estudar, a glória do conhecer, Jesus falou com propriedade que só somos libertos quando conhecemos a verdade e é ela quem nos liberta da opressão de falsos ensinos, de poderes humanos, de conhecimentos medíocres, da podridão da corrupção, por mínima que seja.
No entanto, o tema proposto nessa obra é a prática de como mostrar ao aluno A arte do aprender e do querer aprender, que tipo de estímulos ele deve ter, aprender a ser motivado, aprender a ter sensibilidade ao ouvir e discordar, ao ouvir e escutar, ao ouvir e debater, a replicar ou treplicar, mas tudo com respeito e conhecimento real e prático, nada de achismo e preconceitos, pois quem é preconceituoso é ignorante no sentido original da palavra. Claro que ninguém consegue ser imparcial, mas que pelo menos tenha coerência no que defende, segurança no que conhece e prudência no que se propõe, e essa é a consequência da Arte do aprender.
O que é aprender?
Tudo o que aprendemos está relacionado ao meio em que vivemos, há uma máxima muito conhecida que se diz “o homem é produto do meio”, mas na realidade podemos afirmar também o contrário “o meio é produto do homem”, pois sabemos que o homem geralmente se adequa ao sistema, mas existem pessoas (homens) que transformam e/ou transtornam-o.
Ao observarmos com um olhar crítico, a posição de dois psicólogos muito conhecidos e que dão base a educação contemporânea, Piaget e Vigotsky, o primeiro fala basicamente que a criança amadurece biologicamente para reconhecer e interagir com objetos e com seu meio, já o segundo diz que o meio faz com que a criança desenvolva e amadureça, ou seja, as relações sociais faz com que essa criança crie novas opções e desenvolva sua cognitividade, fazendo alguns que se acham entendidos dizerem que os dois são opostos, mas na realidade as ideias de ambos são paralelas, um com visão de biólogo (Piaget) o outro com uma visão de sociólogo (Vigotsky). É notório, como falei anteriormente, que é possível haver esses dois tipos de aprendizagem e essa relação com o meio.
A luta de espadas travadas entre Piaget e Vigotsky foi criada por pessoas que nem sequer os conheceu, muito menos eles sentaram em uma roda de debates para tentar um reprovar os estudos do outro, pelo contrário, apesar de nascerem em mesmo ano viveram e organizaram suas pesquisas em lugares totalmente adversos.
Meu objetivo aqui não é em nenhum momento entrar nos detalhes das discussões e pedagogismos da contemporaneidade, mas desmistificar algumas asneiras que ouvimos de homens que se consideram grandes autores e pensadores, na realidade esse meu comentário anterior foi para dar inicio ao que realmente quero falar nesse capítulo, O que é aprender?
Em prova disso, o aprender é mais que o simples ato de pegar algum objeto, manipulá-lo, ou ouvir alguma palavra, o aprender é logo atrelado a percepção do meio que estamos, seja por qualquer um dos sentidos conhecidos e/ou pela sensibilidade espiritual, absorvemos tudo que um meio produz, por exemplo, ao estar em casa numa cama fria e com um cobertor bem quente aprendemos o sentido do que é melancolia, ninguém lhe falou isso, apenas você sentiu. Se está em um hospital após ter tomado vários medicamentos e está submetido a um soro intravenal, você pode ter vários aprendizados, como o sentir cheiro de éter por alguns minutos ou horas e descobrir que aquilo é éter, ou mesmo nem perceber nenhum cheiro, mas ficar muito agitado em decorrência da medicação, sentindo vontade até de arrancar aquele escalpe e sair correndo feito louco para casa, aprendendo que está em casa é o melhor lugar, entre outros aprendizados que nem sequer precisaram de um professor, estes são através da percepção táctil, olfáctica, visual, gustativa, temporal, espacial e porque não, espiritual.
E é aí que entra a sensibilidade do professor comprometido com a Arte do aprender, deve este tentar atingir o máximo possível destes sentidos do aluno para que seu desenvolvimento seja o mais completo possível, por exemplo, fazer atividades durante a aula que tenham imagens, sons (a própria voz ou música), dê algo para degustarem, mas com o objetivo do aprendizado, por exemplo uma dinâmica que fiz quando estava falando sobre conhecer e provar do Espírito Santo, levei algumas uvas bem doces para a sala de aula e perguntei: O que vocês acham dessas uvas? Será que estão doces? Só devemos falar de algo se realmente provarmos e não de ouvi dizer, daí entreguei uma uva para cada aluno e eles provaram e comprovaram o gosto, se era suculenta ou não, se estava doce ou azeda ou acrimoniosa, se tinha bastante líquido ou estava seca, e aí por diante. Cheiros também podem ser utilizados, mas é um trabalho mais difícil de se fazer, principalmente em uma igreja. Mas, por exemplo, se estiver falando em oração e compará-la ao incenso suave, porque não levar um incenso com um cheiro bem aromático para exemplificar o texto bíblico.
É importante também fazer a relação do tempo existente entre o que se diz e a prática nos dias atuais, e neste ponto nossos professores de Escola Dominical deixam a desejar, porque não tentam conhecer a relação cultural e os costumes dos tempos da Bíblia, é importante conhecermos o contexto cultural, social, político e religioso da geografia bíblica, ou seja, seus povos e suas terras, descobrindo o porque das afirmações e texto que muitas vezes achamos que é uma coisa, mas é outra.
Em relação ao aprender espacial, o professor deve estar apto a fazer relações do conjunto de fatores que existem no dia a dia do aluno, em que espaço ele vive, como é a sua comunidade, no caso da igreja, é importante que o professor tenha sensibilidade em traduzir e entender as relações entre estes membros dessa comunidade, no caso em questão, o conjunto dessas pessoas, ou melhor, como se comportam em grupo, como são as atividades diárias dessa igreja, quem participa, porque participa, quais seus interesses, ou seja, entender o porquê de eles ocuparem este ou aquele espaço. No que se trata a aula na sua totalidade, o professor também pode fazer dinâmicas usando esse espaço conhecido, por exemplo, se próximo a igreja existe uma praça, por que não levá-los à uma aula neste local? Claro que se deve olhar se é seguro fazer isso. Há alguns anos atrás fiz essa experiẽncia pela primeira vez, motivado pela pedagogia de Freinet e deu certo, levei a sala de adolescentes para uma área de Lazer próximo a minha igreja e lá produzimos cartazes sobre o assunto, eles, os alunos, ficaram radiantes, apresentaram seus cartazes e se divertiram muito no espaço aberto, até hoje, mesmo sendo já todos jovens ainda comentam sobre essa aula e sempre respondo com um sorriso de satisfação. Como nosso trabalho é voluntário, não custa nada investirmos em ideias inovadoras.
Fico feliz pelo seu interesse em melhorar a forma de ensino, eu também achava as aulas de EBD chatas e a partir daí comecei a procurar novos métodos de ensino para que a minha aula se tornasse prazerosa, comecei a busca em livros, blogs etc,foi assim que achei seus comentários ,leio todos e aproveito bastante em minhas aulas.
ResponderExcluirObrigado, querida irmã Mônica.
ResponderExcluirFico feliz em poder estar ajudando, espero que entenda que há alguns erros no texto, pois está em fase de reestruturação e correção, para mostrar-lhes que por mais que tenhamos conhecimento científico suficiente, ainda seremos sempre eternos aprendizes e passivos a erros!!!
QUE DEUS CONTINUE A ABENÇOANDO!!!
A PAZ DO SENHOR JESUS!! Já estou com fome desse livro que deve ser impresso e colocado a disposição dos que querem continuar aprendendo. Muito bom!! assim que disponivel mande-me email. FK NA PAZ!!! esse é o meu versiculo Romanos 2:21
ResponderExcluirEsse livro vai ser uma benção para todos que amam ensinar aprendendo!
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